
O Brics pretende expressar “sérias preocupações” com o aumento de tarifas “unilaterais”, na declaração final da sua reunião de cúpula no Rio de Janeiro, que começa neste domingo (6), segundo o projeto de texto acordado neste sábado pelos negociadores. “Expressamos nossa preocupação séria com o aumento de medidas tarifárias e não tarifárias unilaterais que distorcem o comércio e são inconsistentes com as regras da Organização Mundial do Comércio”, diz o documento.
O texto não menciona o presidente Donald Trump, que disse nesta semana que planeja enviar cartas aos parceiros comerciais dos Estados Unidos nos próximos dias para informá-los sobre a aplicação iminente de tarifas anunciadas. “Diante do ressurgimento do protecionismo, cabe às nações emergentes defender o regime multilateral de comércio e reformar a arquitetura financeira internacional”, disse hoje o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao abrir um evento empresarial do Brics.
Os ministros das Finanças dos países-membros do bloco divulgaram uma declaração conjunta em que também expressaram preocupação com a tensão tarifária.
Consenso sobre Oriente Médio
Os negociadores também chegaram hoje a um consenso sobre a escalada bélica no Oriente Médio, tema que mais dividia as delegações. O Irã, membro do grupo desde 2023, esperava um tom mais duro do Brics sobre o conflito naquela região, segundo uma fonte que participou da negociação. Mas a declaração final dos líderes vai manter “a mesma mensagem” que o grupo divulgou no mês passado, na qual manifestou “profunda preocupação” com os bombardeios de Israel e Estados Unidos contra o Irã.
O presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, não participará da reunião no Rio, para a qual foi enviado seu chanceler, Abbas Araqchi. “A tendência é que o tom da reunião de cúpula seja cuidadoso” com os Estados Unidos, disse Marta Fernández, especialista em Relações Internacionais e diretora do BRICS Policy Center da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). A China, por exemplo, “vem tentando uma postura contida sobre Oriente Médio, e uma cúpula capturada por esse conflito talvez não seja do interesse de Pequim”.
Após o bombardeio ordenado em junho por Donald Trump contra instalações nucleares iranianas, o Brics emitiu “uma declaração totalmente vaga” sobre o conflito, disse Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O motivo foram as “divergências entre os membros”, com países como a Índia, que negociam acordos comerciais com Washington e “não querem se indispor com os Estados Unidos”, acrescentou.
IA e mudanças climáticas
Nos últimos dois anos, a lista de países do Brics passou a incluir Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes, Etiópia, Indonésia e Irã. O grupo foi fundado em 2009, para fortalecer o chamado Sul Global. Além do texto final, o Brics vai emitir outras três declarações, sobre mudanças climáticas, governança da inteligência artificial e cooperação sanitária.
As Forças Armadas mobilizaram mais de 20 mil agentes para blindar o Rio de Janeiro durante o evento, e vão usar caças com mísseis para controlar o espaço aéreo, uma medida que não era adotada desde os Jogos Olímpicos do Rio-2016.
*Com informações da AFP
Publicado por Carolina Ferreira
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