A Justiça da Colômbia anulou nesta terça-feira (21) a condenação do ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010) por suborno de testemunhas e fraude processual. A decisão reverteu uma sentença de primeira instância de agosto, que havia tornado Uribe o primeiro ex-presidente do país a ser condenado criminalmente e a perder a liberdade.
Um juiz do Tribunal Superior de Bogotá considerou que não havia provas suficientes para incriminar Uribe, além de apontar a ilegalidade das escutas usadas como evidência e falhas na metodologia da juíza anterior. Uribe havia sido condenado a 12 anos de prisão domiciliar.
O senador de esquerda Iván Cepeda, autor da denúncia original contra Uribe e adversário político, já anunciou que vai recorrer da decisão por meio de um recurso de cassação junto à Suprema Corte de Justiça. Após a audiência virtual de seis horas, Uribe, de sua residência em Rionegro, expressou gratidão a Deus e à sua equipe jurídica, afirmando: “A única coisa que posso lhes dizer é que eu disse a verdade”. O ex-presidente havia respondido ao processo em liberdade após cerca de 20 dias em prisão domiciliar, graças a uma decisão anterior do mesmo tribunal que agora revogou sua condenação.
O presidente Gustavo Petro, também opositor de Uribe, criticou a decisão nas redes sociais. “É assim que se encobre a história da governança paramilitar na Colômbia, a história dos políticos que chegaram ao poder aliados ao narcotráfico e que desencadearam um genocídio no país”, escreveu Petro no X, sugerindo que Uribe mais uma vez conseguiu escapar das acusações sobre sua relação com esquadrões de extrema-direita.
A anulação da condenação de Uribe agita o cenário político colombiano a menos de um ano das eleições presidenciais de 2026. Forças de direita, que buscam retomar o poder, comemoraram a decisão. Uma pré-candidata alinhada a Uribe chegou a não descartar que ele se candidate ao Senado ou à vice-presidência. O processo judicial, que se tornou o mais midiático do século no país, teve início em 2018, quando a Suprema Corte investigou Uribe por supostos vínculos com paramilitares após denúncias de Iván Cepeda.
A Justiça chegou a condenar Diego Cadena, advogado de Uribe, a sete anos de prisão domiciliar por suborno no mesmo processo, após ele tentar subornar o ex-paramilitar Juan Guillermo Monsalve para alterar seu testemunho. Uribe sempre negou as acusações, atribuindo o processo a uma perseguição política da esquerda. O ex-presidente ainda enfrenta pelo menos três outras investigações por fundação e financiamento de grupo paramilitar, massacres e assassinato de defensor dos direitos humanos, todas sob a responsabilidade da Procuradoria colombiana.
A decisão do tribunal gerou reações diversas. Enquanto o presidente Petro a rejeitou, relacionando-a à crise que enfrenta com os Estados Unidos e a choques com o presidente Donald Trump, o secretário de Estado americano Marco Rubio comemorou, afirmando que “a justiça prevaleceu na Colômbia com a absolvição do ex-presidente Uribe depois de anos de uma caça às bruxas política contra ele e sua família”.
Uribe é uma figura popular na Colômbia por sua intensa perseguição à guerrilha durante seus dois mandatos. Contudo, seu período no poder também foi marcado por graves violações dos direitos humanos, incluindo o assassinato de milhares de civis apresentados como guerrilheiros mortos em combate. Quando o caso chegar à Suprema Corte, a análise do recurso de cassação poderá levar meses ou anos.
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*Com informações da AFP
