
A atual ofensiva de verão promovida pela Rússia não tem tido grande sucesso territorial. De fato, pouco se alterou nos mapas da guerra durante os últimos seis meses, mas os ganhos pontuais em vilarejos em Donestk dificultam a elevação da moral das tropas ucranianas. Apesar de conquistas incipientes, os ataques com milhares de drones, mísseis balísticos e mísseis de cruzeiro têm exaurido a capacidade de defesa antiaérea da Ucrânia, confirmando ao presidente Volodymyr Zelensky, que o momento de buscar mais ativamente uma saída diplomática chegou.
A destruição de mais consideráveis parcelas de grandes cidades ucranianas como Kharkiv, Sumy e Kryvy Rih, moveu os diplomatas ucranianos e até mesmo convenceu o presidente Donald Trump a conceder armamentos a Kiev.
Talvez decepcionado com sua própria capacidade de persuadir Vladimir Putin, ou genuinamente indignado com as ações militares violentas conduzidas por Moscou na Ucrânia, Trump até deu um ultimato aos russos no campo econômico. Se em 50 dias da data de seu anúncio um desfecho diplomático não for encontrado pela Rússia, os produtos russos serão taxados em 100% ao entrarem nos Estados Unidos. Por mais que soe ameaçadora, a robustez da medida se enfraquece ao considerarmos que o comércio entre os dois países teve uma queda de aproximadamente 90% desde a invasão da Ucrânia em 2022. Aquilo que outrora poderia causar significativo impacto, hoje não traz insônia aos ministros da Federação Russa.
Como sucessores diretos da União Soviética, a Rússia aprendeu por mais de um século a viver sancionada pelas mais diversas nações. Mesmo com as perspectivas preocupantes para a economia russa até o final dessa década, nenhuma medida meramente tributária ou financeira poderá alterar os planos de Vladimir Putin dentro da Ucrânia. Nesse contexto de irredutibilidade os russos enviaram uma delegação à Turquia mais uma vez para uma nova rodada de tratativas. O porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, contudo, enfatiza “não esperem milagres”.
Todos os interlocutores do presidente Putin argumentam que para que sejam negociações sérias, as conversas precisam utilizar como base a realidade nas trincheiras e os mapas mais atuais de controle territorial. Imagens de satélite corroboram que cerca de 20% da área internacionalmente reconhecida como ucraniana, hoje é controlada pela Federação Russa. Para Moscou tais conquistas são irreversíveis e inegociáveis. A desistência do sonho atlanticista de Kiev também é condição sine qua non para uma conclusão definitiva da guerra.
Enquanto espera uma nova leva de armamentos da OTAN, prometidas por Trump e o secretário-geral do bloco, Mark Rutte, Zelensky realiza cálculos políticos que se tornam dolorosos perante a realidade. A esperança de reaver todos os seus territórios aos poucos definha, à medida que uma guerra longa, penosa e fatigante se estende pelo seu quarto ano ininterrupto.
Se reconquistar 20% era o sonho inicial, não perder mais 20% é a meta atual. O direito internacional e a moral que rege as relações entre nações desde 1945 sempre estarão ao lado da soberania da Ucrânia, contudo a Realpolitik, com o mundo concreto e pragmático, sonhamos já aponta para um novo contorno de seu território.

As conversas em solo turco poderão acabar pela terceira vez de forma enfadonha com resoluções inócuas, mas demonstram aos russos, aos ucranianos e aos diversos nacionais de países em guerra, que a diplomacia, mais cedo ou mais tarde, deve acontecer. Diálogos infrutíferos, apesar de decepcionantes, podem reacender uma fagulha não da espera de um milagre, mas a de retomar a solução de grande questões geopolíticas através de apertos de mão.
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