Ruas de cidades ucranianas são tomadas pela primeira vez por manifestantes desde o início da guerra

Em um país mobilizado para uma guerra contra a segunda maior potência militar do mundo, há pouco tempo e poucos recursos para política interna. Desde a invasão russa na Ucrânia e com o decreto de lei marcial, o apoio da sociedade civil às forças armadas e ao presidente Volodymyr Zelensky foi consistente. A violência dos […]

Em um país mobilizado para uma guerra contra a segunda maior potência militar do mundo, há pouco tempo e poucos recursos para política interna. Desde a invasão russa na Ucrânia e com o decreto de lei marcial, o apoio da sociedade civil às forças armadas e ao presidente Volodymyr Zelensky foi consistente. A violência dos ataques russos uniu a população ucraniana em ideais comuns defendidos para o mundo através da figura do presidente eleito em 2019. A completa incapacidade logística de se realizar eleições em 2024, quando era previsto, gerou enormes críticas do Kremlin, alegando práticas pouco democráticas dentro do governo ucraniano. Por mais hipócrita que seja qualquer comentário sobre democracia proveniente da Federação Russa, internamente a popularidade de Zelensky passou por altos e baixos durante os últimos quatro anos, dependendo do sucesso e da moral de suas tropas.

Apesar de pouca admiração por partes da sociedade e pequenos grupos pró-Rússia que ainda vivem nos 80% do país controlados pelo exército de Kiev, uma oposição robusta e organizada nunca se mobilizou ou se mostrou viável durante os anos de guerra. A retórica europeísta de Zelensky e seu comprometimento com valores como liberdade de expressão e transparência, ressoaram de maneira positiva, sobretudo com os jovens. Contudo, a estrutura oligárquica e burocrática herdada da União Soviética, manteve práticas nas profundezas do estado ucraniano, que dificilmente são alteradas em um mandato.

Antes da Euromaidan há mais de uma década, a Ucrânia era uma nação completamente alinhada aos interesses de Moscou, onde as liberdades individuais e eleições limpas eram apenas um sonho distante. Com a revolução em 2014 muitos novos problemas nasceram, mas de fato, mudanças políticas internas possibilitaram o nascimento de valores associados com as democracias liberais. A censura deu lugar a múltiplos jornais de visões distintas, os burocratas aliados a Putin tiveram que concorrer em eleições contra voz dissonantes, e um maior controle arrecadatório e seus respectivos gastos ocorreu.

Entretanto, a corrupção em determinados setores da estrutura governamental permaneceu como um problema endêmico. Favorecer determinadas famílias, empresas e indivíduos por velhas amizades ou conveniências econômicas continuou a fazer parte do cotidiano ucraniano, apesar das reformas bem-sucedidas. A aspiração para se tornar um membro da União Europeia, trouxe à Ucrânia inúmeras obrigações e metas antes da formalização da candidatura ou a ascensão ao bloco. Além de reformas econômicas e monetárias desafiadoras, a transparência estatal e o combate à corrupção devem ser constantes visando mitigar irregularidades.

Nesse contexto agências específicas como o Escritório Nacional Anticorrupção e a Promotoria Especializada Anticorrupção começaram a atuar de forma independente para conduzir investigações, produzir relatórios e apontar desvios e irregularidades. Após o recebimento de centenas de bilhões de dólares em ajuda financeira, militar e humanitária dos aliados, algumas denúncias de desvios indevidos de recursos começaram a emergir. Tais casos, que ainda seguem em investigação, acabaram causando a demissão de ministros e críticas de todos os lados. A promessa de Zelensky ao seu povo e aos seus fiduciários foi de disponibilizar todos os recursos necessários para investigações autônomas e a punição imediata aos culpados.

Apesar das promessas, o presidente defendeu a aprovação de um projeto de lei polêmico que visa retirar a independência dos órgãos anticorrupção, colocando-os sob o controle do procurador-geral da Ucrânia e dando acesso ao governo aos casos investigados. Milhares de manifestantes reuniram-se nas ruas da capital Kiev e de cidades grandes como Odessa e Dnipro, exigindo o veto presidencial de Zelensky ao projeto já aprovado no parlamento ucraniano. Essa foi a primeira grande mobilização popular desde o início da guerra em 2022. Apesar da pressão das ruas, o presidente disse que não utilizará o seu poder de veto, mas garante a continuidade do trabalho de forma limpa por parte das agências.

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A cambaleante campanha militar no verão e a espera demorada por novos armamentos da OTAN, colocam em teste mais uma vez a popularidade de Zelensky. As reiteradas promessas sem garantias, preocupam os cidadãos ucranianos que observam nas recentes manobras políticas uma ameaça ao sonho europeu de Kiev. Ao colocar-se do lado da velha estrutura estatal soviética ainda presente nos almoxarifados ucranianos, o presidente se mostra não tão diferente de seus antecessores e não tão reformista quanto esperam os seus aliados deste ou do outro lado do Atlântico. Talvez a fadiga da guerra em tempos nebulosos, apenas empurrem a Ucrânia para as familiares e enfadonhas práticas já conhecidas de tempos passados.

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